O auto da maga Josefa
EscritaLivros 2019-01-07Um caçador de ‘coisa ruim’ junta-se a uma maga e percorrem o agreste atrás de demônios, lobisomens, maldições, mulas sem cabeça e todo tipo de ruindade que possa existir, e usando magia, rezas, exorcismos, conjurações, a dupla restabelece a paz no lugar castigado. Apesar da improvável parceria, e da personalidade difícil da maga, os dois formam uma bela dupla, ela com seus encantos e magias e ele com suas armas e ‘sabidurias’.
“Sua lâmina tinha poderes diversos: era de prata, para dar conta de lobisomens; benzida, para enviar demônios de volta ao inferno; amaldiçoada, caso enfrentasse anjos caídos; banhada em veneno de cobra, se tivesse que acabar com chupa-cabras ou mulas sem cabeça, e bem afiada, para dar cabo de cabras safados.”
A premissa básica do livro de Paola Siviero é simples, mas extremamente bem construída, e nos coloca, envolvidos pela forma como constrói a história, dentro do ambiente, do sotaque, do jeito como as pessoas falam e de como as coisas acontecem, muito fielmente apresentados, ao menos do ponto de vista deste cabeça chata, principalmente por saber que a escritora não é nordestina, e sim mineira criada no vale do paraíba.
O livro possui uma capa no estilo xilogravura, típico de literatura de cordel, fonte de inspiração notória de muitas passagens.
O livro é dividido em dez capítulos, sendo a maioria com um arco de história fechado em si, mas que fecham um grande arco ao final.
As historias perpassam muitas crendices, muitas práticas, causos envolvendo, não só espíritos malignos ou chupa-cabras, comuns em nosso imaginário popular, mas também criaturas pouco prováveis para o nordeste como vampiros e gênios de lâmpadas de desejos, mas todos muito bem abordados, justificados e fazem completo sentido no universo posto.
Algumas passagens senti referências a obra clássica de Ariano Suassuna, O Auto da Compadecida, onde imagino que seja difícil escapar dessa referência por tamanha importância em nossa literatura regionalista, inclusive no humor presente em toda a obra.
O auto da maga Josefa é uma grata surpresa, um belo livro, uma belíssima homenagem à cultura brasileira. Parabéns Paola Siviero. Parabéns Dame Blanche pelo ótimo trabalho. Grato por me levar de volta ao sertão!
“Não é o caminho que tomas, é a direção que segues.”