Sonhar e sorrir (milho verde)
EscritaCrônicas 2017-07-30Era um fim de tarde de domingo, os raios de sol riscavam o céu e alguma luz amarelada adentrava o pequeno restaurante especializado em milho, localizado em um movimentado cruzamento na zona norte da cidade. O estabelecimento não era grande, com um ambiente inovador quando fora inaugurado, e já se passaram certamente algo próximo à um milheiro de outros domingos e o lugar merece uma boa reforma, mas atende bem ao público que ali frequenta, com pamonha, torta, sorvetes, sucos e o que mais se imaginar feito com milho verde.
O público que frequenta é diversificado, mas não ultrapassa a classe média, seja lá o que isso signifique… e nesse dia havia metade da lotação, uns dois casais, um senhor sozinho, e minha família, que não frequenta assiduamente o local mas que sempre que pode e retorna a este lado da cidade, delicia-se com os sabores do local.
Entra então no local mais uma família, ainda sem me chamar a atenção ocuparam uma mesa no canto, bem em frente ao meu campo de visão. Eram o pai, a mãe e dois filhos meninos. Os adultos aparentavam uns trinta anos de vida e muito sofrimento, talvez até tivessem menos, e seus filhos algo em torno de sete e nove, deduzi.
Fizeram seu pedido e conversavam enquanto a comida não chegava.
A comida então chegou e minha atenção foi solicitada, não por ela, pois já estava comendo, mas por uma daquelas cenas em que a vida muda e enxergamos mais e melhor, foi a vida solicitando a minha atenção.
A comida sei que não foi muita, não havia o mínimo sinal de ostentação, era o que o seu dinheiro conseguia pagar, certamente, mas foi sublime. O pai e a mãe trataram logo de separar os pedaços de pamonha e de torta para cada um deles. Enquanto os filhos olhavam com aqueles olhos de jabuticaba, brilhando, posso dizer que aquela era a melhor comida do mundo. Queriam certamente avançar, mas contidos pela educação, esperaram os pais ajeitar-lhes o talher nas pequenas mãos, depois de terem facilitado e cortado a comida em pedaços pequenos.
Sorriam e mastigavam, entre uma olhada alegre para o pai e um sorriso legítimo para a mãe, os meninos eram alegres. O pai contava alguma história para eles, enquanto a mãe vez ou outra fazia alguma pergunta instigante e os dois meninos tentavam adivinhar o que iria acontecer. Entre continuações acertadas com exaltações de alegria ou erros de pouca frustração, os meninos eram realmente felizes, estavam vivendo aquele instante em que se é pleno, em que ser pobre ou rico nada quer dizer, pois o espírito naqueles instantes é realmente livre e o mundo não pesa, nem oprime, nem caleja, momentos em que a vida vale a pena.
Jamais esquecerei aqueles pais, pobres, que mesmo em condições ruins, possibilitam toda a riqueza que pode existir em vida aos filhos, sonhar e sorrir, serem felizes!