Farelos de sonhos
CrônicasEscrita 2017-04-10Acontecia ali no canto da calçada, em uma movimentada avenida radial da cidade.
O ônibus em que eu estava parou no semáforo, e fiquei de frente a ele.
Percebia-se que era novo nessa vida, pois apesar de estar sem camisa, alí ao lado ela estava, junto a seus poucos pertences. Sentado de pernas esticadas, as calças e sapatos bem sujos, mas ainda pouco maltratados. Corpo inclinado, apoiava-se em um dos braços.
Olhava o trânsito imerso em seus pensamentos. Um pedaço de pão seco em uma das mãos. Tinha um mastigar lento, olhar perdido, mas havia ainda uma fagulha de esperança, tentava mastigar farelos de sonhos, longínquos…
Senti um vazio, um medo quem sabe, daquele olhar cruzar-se com o meu.
Qual é sua história? Onde está sua família? Por que veio parar aqui? Qual foi sua escolha errada? Ou será que não teve escolha?
No infinito passar de gente, alguém ajuda, mas ainda sim são migalhas, farelos de sonhos cada vez mais secos…
O semáforo abriu!