A fundação

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A Fundação é considerado um dos maiores clássicos de Ficção Científica e Asimov elevado a um alto grau de prestígio, por ter criado todo um universo ficcional e mostrar o caminho que foi seguido por muitos depois dele.

A história de A Fundação se passa num futuro em que a raça humana se espalhou pela galáxia, e Trantor, que é a capital do Império, se vê ameaçada pelas previsões de Hari Seldon, cientista criador da psico-história. Daí por diante são vários recortes de momentos históricos e acontecimentos que se entrelaçam mostrando o curso da historia e da relação que a Fundação, criada por Seldon, desenvolve sob aspecto político e religioso, envolvendo a sobrevivência, a necessidade e a dominação em relação aos vizinhos e ao Império.

A figura icônica de Hari Seldon, é acusado de traição por alegar o declínio e posterior queda do Império por dez mil anos. Sua previsão é realizada através da psico-história.

“Entretanto, a queda do Império, cavalheiros, é uma coisa sólida e não será fácil evitá-la. Ela é ditada por uma burocracia em ascensão, um dinamismo em declínio, um congelamento de castas, um represamento da curiosidade… e uma centena de outros fatores.”

Ele propõe a criação de uma equipe de Enciclopedistas que reuniriam todo o conhecimento existente, minimizando assim a era de trevas para apenas mil anos. Sem um sucesso aparente Hari Seldon é autorizado a montar, no planeta Terminus na borda da galáxia, a sua Fundação que abrigaria os enciclopedistas, ficando assim isolado do Império.

Hari Seldon não só previu mas talvez tenha entendido os movimentos e mecanismos políticos e históricos, de forma que anteviu uma série de crises e deixou recomendações para superá-las.

“Entretando, …, o tronco de árvore podre, até o instante exato em que a rajada de vento da tempestade o parte ao meio, tem todo o aspecto de poder que sempre teve. “

Aparentemente, algumas críticas são inseridas nas falas das personagens, tendo um caráter atemporal por se tratar de questões inerentemente humanas.

“A violência é o último refúgio do incompetente”

Podemos encontrar uma grande crítica ao modo de pensar das religiões:

“Durante esse tempo todo, vocês invariavelmente confiaram na autoridade ou no passado… e nunca em si próprios.”

“…isso é uma atitude doentia, um reflexo condicionado que põe de lado a independência de suas mentes sempre que é uma questão de se opor à autoridade.”

“…religião é uma das grandes influências civilizatórias da história,…”

A condição de alianças e dominação e exposta em vários momentos, tanto do ponto de vista do indivíduo como de grupos. Outro aspecto é a burocracia e lentidão do grandioso Império, evidenciado no final, contrapondo-o à Fundação, enxuta, ágil e eficiente.

As questões morais e éticas são abordadas e as corrupções afim de auferir ganhos próprios e substâncias são expostos de forma a mostrar que este é o curso inevitável desse modelo de organização social, mesmo que envolvendo a galáxia ou as relações domésticas.

“Nunca deixe seu senso de moral impedir você de fazer o que é certo!”

“Um desintegrador é uma boa arma, mas pode apontar para os dois lados.”

“…crises Seldon não são resolvidas por indivíduos, mas por forças históricas. Hari Seldon, quando planejou seu curso da história futura, não contava com heroísmos brilhantes, mas com amplos panoramas da economia e da sociologia.”

“Mas é muito difícil de aguentar pequenas coisas quando o fervor patriótico do perigo iminente não está presente.”

Não tem como não traçar um paralelo com a nossa própria história, até ouso a dizer que é a nossa história contada com uma outra roupagem, outro tempo, outra tecnologia, mas os mesmos problemas, conflitos e interesses.

“Outras crises acontecerão no futuro, quando o poder do dinheiro tiver se esgotado, da mesma forma que a religião se esgotou hoje.”

História que causam uma identificação são uma forma de agradar o público, quando nos identificamos com algo temos uma certa predileção pelo que é ali contado, pela narrativa, como uma olhada no espelho, mas nos colocando sob a perspectiva de espectador histórico. Para mim, Asimov reescreveu a história humana, com seus aspectos próprios, e o fez de forma muito interessante e com críticas elegantemente inseridas ao longo dos diálogos e dos recortes históricos.

Muitas são as possibilidades dentro da história, muitos detalhes podem ser elucidados, ressaltados e a curiosidade fica para o restante da obra, que será devidamente apreciada no momento certo, por enquanto ficou uma ótima impressão de Asimov.


Durante meu exame médico de rotina, um breve papo literário aconteceu, questionado sobre o que eu estava a ler citei Douglas Adams e seu Guia do Mochileiro das Galáxias, mas fui ligeiramente contido com a frase:

– Não!!! Isso é coisa de criança, leia Isaac Asimov, A Fundação, aí você se torna gente grande.

Não tive concordância em estar gostando do Guia, mas concordamos quando citei Tolkien.

Bom, devo dizer que ele não estava errado, mas também não estava de todo o certo.

Agora… pelo que me recordo a especialidade dele, além de medicina do trabalho, é neurociência … psicopedagogia … será que também é psico-história?

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