Tia Vanda
CrônicasEscrita 2017-04-13– Venha cá minha linda, mas não tenha pressa! Já te falei que anjos não correm. Anjos voam!
E com aquele carinhoso sorriso dirigido a mim, pegou-me em seus braços e com afeto de mãe, fui levada para junto do meu irmão, que já estava pronto para ir embora, sentado na pequena mureta com as outras crianças da creche.
Lembro-me apenas que o tempo passou, e como todos os outros dias, seríamos, meu irmão e eu, os últimos a sair. Todos os dias assistíamos todas as crianças saírem, mães, pais e irmãos vinham buscá-los. Pra mim, os pais eram mães, só que homens, era o conceito vago que eu tinha. Alguns vinham a pé, outros de carro, mas sempre vinham antes.
As crianças corriam, não por ser ruim ficar ali, mas pelo prazer de rever e reencontrar seu lar, seu porto seguro. Mas nenhuma delas corria tanta quanto eu, que faltava apenas voar ao me jogar nos braços cansados de minha mãe.
Minha mãe trabalhava cuidando de uma bela e grande casa, de gente importante. Ela é quem deixava tudo no seu devido lugar, tudo limpo. Era muito importante o trabalho dela. Era tudo que eu sabia sobre seu emprego, além de ser bem longe.
Mas aquele dia foi diferente, depois de todos irem embora, minha mãe demorou… e demorou… A creche fechou e só sobrou uma Tia… Ela me chamava de meu Anjo, e tinha um carinho especial por meu irmão e com maior evidência por mim.
O fim da tarde chegou, aquele calor que o sol trouxe logo deixou de existir, em seu lugar um vento gelado e um céu que rapidamente coberto por nuvens ficou. A luz se foi, o calor também, nenhuma criança restou além do meu irmão e eu, congelando e sufocados de saudades.
Olhávamos para o fim da rua, na esperança de ver minha mãe, mas ela não vinha… e o vento cortava meu coração, um sentimento de medo e vazio tomou conta de mim, mesmo sem saber o que era aquela sensação, era apenas algo ruim… correu uma lágrima em meu rosto…
– Cadê a minha mãe Tia?
– Ela já está vindo meu Anjo! Não se preocupe!
Não tenho ideia do tempo que ali passamos em seus braços, mas pareceu-me uma eternidade.
Eis que surgiu ao longe meu primo, que já era grande. Veio nos buscar depois de minha mãe ter conseguido ligar e avisar que ainda estava no caminho, seu ônibus havia quebrado.
Em retrospectiva, hoje vejo o quanto aquele simples episódio me marcou, e mostrou o quanto a tia da creche foi importante na minha vida, servindo de porto seguro em meio à minha tempestade interna, protegendo e acolhendo aquelas duas crianças num legítimo papel de mãe.
Outros fatos já ocorreram em minha vida, mas esse foi o momento em que foi plantada em mim a semente do afeto docente, de querer ser como a Tia, de ajudar retribuindo o exemplo dela, que marcou e ajudou a definir o meu desejo de estar aqui hoje, sendo entrevistada para essa vaga.